Protesto em Curitiba 2 de setembro
Nota de Cumplicidade:
Os protestos “Fora Temer”, e “contra o golpe”estão acontecendo em várias cidades deste território de forma cada vez mais “radical”, onde encapuzadxs quebram bancos, saqueiam lojas, usam as lixeiras de barricadas incendiarias e praticam futebol com as bombas de gaz lacrimo… Neste contexto, alguns anarquistas têm manifestado sua posição em relação a sua participação (ou não participação) aos protestos. Enquanto blog de Contra Informação que busca a propagação da anarquia via a ação direta, acreditamos que reflexões como as que se estão fazendo são necessárias para não cairmos numa “armadilha” política e sermos usados e recuperados pelo PT ( que em 2013 mandou a PM a nos reprimir, criou a lei anti-terrorismo, etc, etc, etc…) enquanto sua massa de manobra e carniça… Para não perdermos, diluirmos e sermos engulidos pelos que até agora considerávamos nossos inimigos. Não confundamos Fora Temer com Fora Todos nem Anarquia com Democracia…. Mas justamente para dar frutos ao debate, precisamos estar nas ruas, precisamos tomá-las e subverter as intenções dos partidos políticos… Precisamos transformar estes protestos contra o golpe em algo além da politicagem, em algo anárquico, em revolta e insurreição… Para isso, precisamos nos encontrar, propagar, quebrar, incendiar, romper com a normalidade e a passividade… e temos que fazê-lo expandindo nossas ideias, pixando as ruas, invadindo as paredes com cartazes e propagandas.
Difundimos estes textos porque achamos que vários pontos levantados são pertinentes para proporcionar reflexão individual e coletiva e debates entre anarquistas, vandalxs, blacks bloc e demais revoltadxs.
A seguir difundimos os textos : “Porque alguns anarquistas estamos nas ruas (se ninguém nos chamou…) Uma posição sobre vandalismo, black-bloc e quebra-quebra” e “Minha opinião sobre o “Fora Temer” que recebemos no e-mail assim como diversas fotos dos protestos em várias cidades… Esperemos que os textos contribuam para reflexões e debates….
São Paulo, 1 de setembro
Porque alguns anarquistas estamos nas ruas (se ninguém nos chamou…) Uma posição sobre vandalismo, black-bloc e quebra-quebra…
Que fique claro que não estamos saindo às ruas para defender um governo, nem o da Dilma, nem qualquer outro. Não fomos manifestar contra o golpe nem muito menos pra defender a democracia. Estamos nas ruas porque hoje, como qualquer outro dia, estamos lutando contra o capital, o estado e seus tentáculos. Desatando e contagiando para quem quiser se contagiar, a revoltosa e liberadora violência. Estamos nas ruas para nos encontrar com outros desajeitadxs sociais e criar cumplicidade no barulho das vidraças quebradas e no calor das lixeiras incendiadas…
Sabemos que as mudanças políticas (não somente neste território) apontam a uma repressão cada vez mais forte e uma violência descarada contra quem não se conforma com a realidade social que nos impõem. Somos cientes também que quem vão se foder mais ainda com o governo atual são os que já vêm se fodendo há anos (para não dizer séculos…).
Não negamos que haja diferenças entre um governo e outro, mas podemos enxergar muito claro que sobretudo há continuidades. No fim das contas, as premissas do governo Temer, as colocaram o governo do PT/PMDB da Dilma, com as reformas repressivas que adotou: as UPP nas favelas, a PEC 215, a lei anti terror etc… Agora o que vivenciamos, são também os resultados do governo do PT e da sua aliança com seus atuais “inimigos”: milicos fardados nas ruas, rei da soja no ministério da agricultura, mais e mais torturadores no congresso… PT, PSOL, PMDB, PP, PSB, PCB etc… para existir todos eles têm que “fazer alianças” entre eles, comprometer seus próprios princípios, suas próprias promessas para alcançar o “Poder”… Uma verdadeira guerra de trono. Todo governo e todo partido político é uma grande hipocrisia…
Mas, além disso, quem gosta de ser mandado? Quem gosta de ser governado, dirigido, oprimido? Todos os partidos são diferentes porcas e engrenagens da mesma maquinaria de dominação.
Fazemos vandalismo, sim, contra o capitalismo, a burguesia, e a dominação. E somos orgulhosxs daquilo.
Quebramos os bancos, as lojas, os carros porque lembramos de cada ataque que cada e qualquer governo fez contra a gente. Porque quando uma vidraça estoura no meio da noite, é um pedaço da hierarquia, da autoridade, da propriedade e da dominação que caí com ela…. Cada pedra atirada, cada rojão que explota, cada lixeira virada é um ato de vingança contra violência estatal que vivemos cotidianamente…
Os vidros quebrados dos bancos Bradesco são um recado para os bilhões de reais que foram investidos nas olimpíadas, porque não esquecemos. Quebramos os bancos porque são símbolos do capital e instituições que perpetuam o colapso social e “ambiental” que estamos vivendo.
Cada pedra atirada é a expressão da indignação de todxs nós, cansadxs de sermos usados, manipulados e dominados pelos governantes, pela mídia, por multinacionais… Uma pedrada carrega raivas, frustrações e sobretudo a liberdade da desobediência, do desrespeito à propriedade. Uma pedrada numa vidraça é a expressão da insubmissão, dos instintos que não foram e nunca serão domesticados e apaziguados. É a capacidade de desbordar as margens do protesto cidadão no caminho da libre rebeldia. Uma pedrada carrega toda a coragem de sair da casa e sair do rol de espetador diante duma tela, pra correr nas ruas, torná-las um campo de ação política.
Nas ruas, onde nos encontramos, não são de ninguém, são da revolta. Elas nos abrem o caminho para retomar nossas vidas, abrem o caminho da insubmissão e da dignidade… Abrem as portas para que cada um possa ser responsável de si mesmo sem depender de nenhuma instituição, abrem o caminho do “foda-se o Estado” e da autonomia… e estamos nelas pra que nossa raiva se expanda, contra a ordem social, não contra o boneco que leva o título de presidente, mas contra toda a estrutura estatal… porque temos claro que as ruas gritam muito além de um “Fora Temer”.
Desde as ruas, somos incontroláveis, na cumplicidade do capuz somos mais fortes, e podemos viver intensamente um encontro onde os bancos nunca serão algo a defender, sem não instituições que lucram com a desigualdade, que se apropriam das vidas a golpes de cartões de créditos e de juros. Onde o carro burguês não é um sonho sem não o símbolo da ostentação. Onde uma loja vende privilégios e não simplesmente roupa…. onde somos capazes de atacar materialmente a dominação.
Que a repressão interna liderada por candidatos e afiliados a partidos políticos, não freiem nossa raiva, que no freiem a ações diretas…
Já chega de sermos mandadxs….
Não pedimos nada, vamos quebrar tudo…
Pelo descontrole, pela revolta, pela anarquia
Porto Alegre, 3 de setembro
Minha opinião sobre o “Fora Temer”
O país está em ebulição com o impedimento. Vejo muitas pessoas, em larga escala da esquerda institucional, revoltadas convocando manifestações “radicais”, pedindo “ação direta” para derrubar o Temer.
Curiosamente, também vejo muitos que se indignam com os “radicais anarquistas e libertários” que não respondem ou fazem coro com esse chamado.
O argumento geral é que finalmente o povo está revoltado, querendo ir pra rua, e aqueles não somam para “radicalizar” juntxs. Como se “radicalizar”, para os que são contra o Estado e o capital, fosse simplesmente sair por aí a quebrar coisas qualquer que seja o motivo, sem estratégia, sem objetivo: exatamente o discurso da grande mídia.
Não entendem que a ação direta defendida pelos “radicais” tem por objetivo expor as contradições do Estado e do capital. Não vejo sentido algum em ir pra rua “radicalizar”, “destruir” o poder do Temer, para colocar outro qualquer no lugar.
Ah se fosse só isso! Pior ainda! Esse discurso expõe de forma fulcral quando, e pelo que, grande parte da esquerda está disposta a “radicalizar”: para trocar um governante por outro, e nada mais.
De 2013 para cá, inúmeros foram os chamados para “radicalizar”: contra a lei anti-terror da Dilma, contra a criminalização dos que lutam, contra a violência policial, contra o fascismo que emerge, contra as chacinas na periferia e muitos outros.
É frustrante, pra dizer o mínimo, que para tudo isso, para a luta que não gera dividendos eleitorais, não haja revolta alguma, mas para legitimar um Estado falido existe.
Portanto, não vou para nenhum “Fora Temer”. Vou sim tentar me organizar e lutar com os debaixo, contra o fascismo cotidiano do Estado, contra os cortes de qualquer que seja o governo e na luta por democracia real: a direta, construída desde baixo e fortalecendo o poder do povo contra qualquer que seja o governo.
GEOVÁ ALENCAR
Algumas fotos…
Belo Horizonte, 6 de setembro. “Nenhum governo é opção”
Curitiba, 2 de setembro
Em Floripa:
Em Porto Alegre:
Em São Paulo: