Nota de Cumplicidade:
A condenação de Jean-Marc Rouillan só demonstra a obstinação do estado francês em seguir perseguindo, vigiando e controlando cada movimento e cada palavra do ativista de Action Directe, organização de extrema esquerda que atuou na França de 1979 a 1987. Jean-Marc tem uma longa trajetória de luta. Aproximou-se dos libertários herederos da guerra civil espanhola na Espanha anti-franquista e no sul da França. Fundou MIL (movimento ibérico de liberação), uma organização anti-franquista que expriopriava bancos para fortalecer á luta. No MIL, conhece a Salvador Puig Antich, arrestado em 1973 e condenado a morte pelo estado espanhol. Para impedir o assassinato de Salvador e exigir a liberação dos companheirxs presxs, Jean-Marc e outrxs montam os GARI (Grupo de Ação Revolucionário Internacionalista), cujos atentados foram memoravéis. Em 1979, Jean-Marc e outrxs companheirxs criam Action Directe, uma organização de tendência marxista que buscou semeiar a revolta e expandir a ação direta armada numa França pacificada com o pseudo socialismo de Mitterand. Ele foi arrestado em 1987 junto com seus companheiros, Georges Ciprianni, Joëlle Aubron e Nathalie Ménignon. Jean-Marc passou mais de 24 anos em prisão, 7 anos em regime totalmente fechado, sem comunicação con ninguém além dos guardiãs. Em 2007 tinha conseguido um regime de semi-liberdade, proibindo-lhe falar sobre as mortes do General Audran e George Besse (diretor da empresa Renault), o regime de semi-liberdade foi revocado quando Jean-Marc deu uma entrevista no jornal “L´Express” e que a jornalista lhe perguntou se se arrependia dos assassinatos. “Não tenho o direito de me expressar sobre isso… mas o fato que não me expresse é de por si uma resposta. Porque é evidente que si mandava à merda tudo o que fizimos, poderia me expressar. Com essa obrigação de silêncio, nos impedem também de enxergar nossa experiência de maneira critica.” Ele por fim saiu em liberdade em 2011 onde trabalhou na editora auto-gestionada Agone que também publicou vários dos seus livros.
Além disso, o clima repressor baseado no medo do terrorismo (que o estado mesmo provoca mandando bombas e assassinando civís na Siria) atual na França favorece a legitimidade de qualquer interpretação absurda diante de um sistema judicial que faria de tudo para por um lado apagar e reprimir qualquer questionamento da política do estado de emergência e por outro, frear qualquer impulso rebelde que poderia desestabilizar o poder.
Desde Cumplicidade, mandamos nosso apoio a Jean-Marc Rouillan!
Mandado ao email:
Na terça-feira passada (16/05), Jean-Marc Rouillan, que foi condenado a prisão perpétua em 1989 e que se encontrava em um regime de semiliberdade desde 2011, foi condenado pelo Tribunal de Apelações de Paris por apologia ao terrorismo, baseado em uma citação fora do contexto a respeito dos atentados de Paris. Um julgamento político para o ex-militante do Action Directe.
Em uma entrevista concedida a Le Ravi em 23 de fevereiro de 2016, Jean-Marc Rouillan mencionou o valor dos terroristas que perpetraram os atentados de Paris contra Charlie Hebdo e o Hyper Cacher, condenando suas ações e “suas ideias como reacionárias”: “Lutaram valentemente. Lutaram nas ruas de Paris, sabiam que havia 2.000 ou 3.000 policiais. Muitas vezes nem sequer preparam suas saídas porque pensam que serão assassinados antes que terminem a operação. Os irmãos Kouachi, quando estavam na imprensa, lutaram até a última bala. Podemos dizer que estamos contra suas ideias reacionárias, que podemos falar de muitas coisas contra eles, dizendo que foi uma besteira fazê-lo, mas não podemos dizer que são crianças ou covardes”.
Imediatamente, as autoridades, começando por Cazeneuve, responsáveis pela morte de Rémi Fraisse, se manifestaram contra o ex-membro do Action Directe, que é responsável do duplo assassinato do engenheiro geral de armamento René Audran (1985) e do CEO da Renault Georges Besse (1986). Seus comentários distorcidos serviram rapidamente de pretexto para condenar uma extrema-esquerda que não aceitou o estado de emergência imposto pelo governo, já que a repressão contra a manifestação organizada contra a COP 21 [Cúpula do Clima de Paris] se observou perfeitamente. No entanto, as observações de Rouillan são inequívocas tanto na condenação da barbaridade dos atos como na iden tificação das causas imperialistas que os produziram: “A força aérea francesa que luta no Iraque e Síria favorece o Daesh. Quando bombardeamos uma escola, levantamos 2.000 combatentes para o Daesh.”
Rouillan foi julgado em 24 de junho de 2016 e sentenciado em 7 de setembro a oito meses de prisão. Foi beneficiado por uma campanha de apoio que gerou o abandono da acusação e de um julgamento em apelação contra Jean-Marc Rouillan. Na terça-feira passada, o veredito da justiça foi ainda mais severo que na primeira instância: 18 meses de prisão (10 meses com um indulto e 8 meses de estrita liberdade condicional), junto com isto uma multa de 1.000 euros para ser paga à Associação Francesa de Vítimas do Terrorismo (AFVT) e a proibição de comentar o caso em público.
Christian Etelin, advogado de Jean-Marc Rouillan, denuncia uma “aberração jurídica” e um julgamento político. Por este motivo, o advogado que acompanhará o ex-militante do Action Directe no tribunal de cassação (Tribunal Superior), enfatiza que “Não são os fatos que se consideraram mas o indivíduo, Jean-Marc Rouillan”. Além disso, ao passar os padrões duplos dos quais Rouillan é vítima, afirma que: “Quando Éric Zemmour diz as mesmas palavras na televisão, ele não é condenado.” O julgamento tem uma clara intenção contra Jean-Marc Rouillan um ex-membro do Action Directe. Também é uma forma de silenciar a todos os oponentes do estado de emergência permanente e o imperialismo francês responsavél pelas guerras e o terrorismo.