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Os últimos anos foram marcados pela eclosão e intensificação de lutas que têm como cenário a cidade. Ruas, bairros, praças são o palco de lutas de transversais, muitas vezes de grande amplitude. Uma série de questionamentos sobre o modelo de cidade e as formas de mobilidade, ocupação e apropriação do espaço urbano, há muito tempo presentes nas lutas, passaram à ordem do dia.
Em 2013 e 2014, as grandes cidades do país foram cenário de revoltas, e foram sacudidas desde baixo pela ação popular. As ideias libertárias pulularam entre as múltiplas pautas sustentadas pelas multidões nas ruas, bem como nas formas de articulação e organização, nas quais a influência das ideias e experiências anarquistas se fez presente e ativa, na reestruturação de um campo combativo desde a esquerda e desde baixo nas cidades.
Por outro lado, as cidades foram território de uma série de práticas repressivas e da violência do Estado. Algo daquilo que é o cotidiano das periferias e bairros pobres das cidades brasileiras, tornou-se também visível no centro das metrópoles, explicitando a lógica com a qual as cidades são geridas pelo Estado e o grande Capital. Em nossas lutas de 2014, nos deparamos com cidades sitiadas e monitoradas, com a restrição do espaço público, expulsões e remoções forçadas, ação policial ostensiva e violenta, restrição do direto de ir e vir, do acesso ao espaço urbano, do direito de reunião e associação – com perseguição efetiva, política, ideológica a coletivos e organizações anarquistas. Vimos, mais uma vez, a intensificação de um “apartheid” social, no qual políticas de urbanismo segregatório e gentrificador, bem como a violência contra a população pobre, jovem, negra e periférica foram constantes.
Para xs anarquistas, a cidade é, também, lugar de afirmação positiva de resistências. E é nesse ponto que se situa a 5ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre, resgatando uma história de apropriação do espaço urbano e de presença cultural e anárquica na cidade que remonta à 1ª Feira, de 2010.
A 5ª FLA vem atualizar e desdobrar essa história, colocando a cidade como foco temático, ocupando ruas e praças na construção de um espaço autônomo, comum e comunitário, tomando lugar na cidade como território em disputa.
O tema da 5ª FLA é, exatamente, a cidade como lugar chave da afirmação das lutas contra toda forma de opressão.
O que une xs anarquistas nos territórios de luta e resistência das cidades? Como podemos apropriar, transformar e lutar num espaço urbano onde possamos criar nossos territórios, zonas livres e autônomas, integrar experiências libertárias e comunitárias?
A 5ª FLA traz o tema da construção da cidade como lugar de disputa e de luta: territorialidades alternativas e libertárias, redes de espaços ocupados, territórios dos de baixo, que afirmam uma outra forma de habitar e construir a cidade. A cidade do poder popular contra a do poder municipal burguês. A cidade da vida coletiva autônoma e livre. A cidade como palco da democracia direta e do apoio mútuo.
A 5ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre lembra e homenageia o companheiro Robson Achiamé, incansável e generoso propagandista do anarquismo. Achiamé nos deixa aos 71 anos – dos quais, pelo menos 47 foram dedicados à propaganda libertária. As caixas de livros que enviava sem pedir o pagamento prévio (ou nem mesmo pagamento), aproximaram muitxs de nós das correntes libertárias e das ideias anarquistas. Sua memória se faz presente na 5ª FLA.
Proposição de atividades, oficinas, bate-papos, debates para somar à programação política, cultural e poética da 5ª FLA até dia 05 de dezembro, via e-mail ou pela página.
Contato: 5flapoa@riseup.net