Retirado de http://www.vice.com/pt_br/read/protestos-sp-zona-norte-28-outubro-2013
Se você estava dormindo há três dias, talvez não saiba, mas desde a noite de domingo a zona norte de São Paulo está bem agitada. Tudo começou no domingo (27 de outubro), quando a PM recebeu uma denúncia de “perturbação de sossego”: um carro tocava funk com volume alto na Rua Bacurizinho. Quando os policiais se aproximaram do local, o jovem Douglas Rodrigues, de 17 anos, passava em frente a um bar com seu irmão mais novo, de 13 anos. Nesse momento, o soldado Luciano Pinheiro, de 31 anos, atirou no peito do garoto. Segundo a PM, o disparo aconteceu por volta das 14h e “foi acidental: a porta da viatura bateu na arma do policial militar”, declarou o advogado Fernando Capano. A abordagem padrão é com a arma travada e apontada para o chão. Segundo testemunhas, Douglas, que estudava e trabalhava numa lanchonete, ainda teve tempo de perguntar ao policial “Por que o senhor atirou em mim?” antes de morrer. Naquela noite, muitos moradores da região saíram às ruas: três ônibus e um carro foram incendiados, muitos depredados, e várias lojas foram saqueadas.
Ontem, isso se repetiu e, enquanto escrevemos este texto, outros protestos similares acontecem na zona norte, já que hoje, outro adolescente (desta vez de 16 anos) foi morto por outro policial, que declarou ter reagido a um assalto.
Nosso fotógrafo Raphael Tognini foi até lá ontem e conta que, diferentemente do que vimos nas manifestações de junho em São Paulo, o protesto não marchava pelo bairro — a galera estava dispersa nas ruas e nas esquinas. Com medo, a maioria das lojas baixou as grades. Um número maior de gente vinha da Avenida Roland Garros fazendo barricadas, quebrando coisas e jogando pedras na polícia. Das casas, garrafas eram arremessadas em direção a quem estivesse na rua, fosse manifestante ou policial. Enquanto uma agência do banco Itaú era destruída, o Rapha foi gentilmente convidado a dar o fora. Com a câmera dentro da mochila, ele atravessou becos e vielas, e chegou até a Rodovia Fernão Dias, onde a Força Tática se encontrava aos montes e o bicho pegava. Uma pista estava bloqueada pelos manifestantes, que incendiavam caminhões; a outra, bloqueada pela Tática. Agências bancárias, caminhões e ônibus foram depredados. Oficialmente, 77 pessoas foram presas. A PM afirma que enquanto uma loja era saqueada na Avenida Milton Rocha, alguns dos manifestantes portavam armas de fogo e faziam disparos. Pelo menos uma equipe de TV flagrou um tiroteio, que deve ir ao ar ainda hoje.
A polícia nos informou por e-mail que o soldado Luciano Pinheiro vai responder a processo por homicídio doloso. O outro policial está em liberdade.
Retirado da imprensa corporativa:
Assassinato Grupo queima pneus e bloqueia via após morte de outro jovem
PM à paisana teria se perdido, entrado na comunidade Bela Vista e reagido a uma tentativa de assalto
30 de outubro de 2013 | 2h 07
Artur Rodrigues – O Estado de S.Paulo
Moradores do Parque Novo Mundo, na zona norte da capital, queimaram pneus e bloquearam a Avenida Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira após a morte de mais um adolescente, na manhã de ontem. Jean Silva, de 17 anos, levou três tiros de um policial militar.
De acordo com a Polícia Militar, um PM à paisana seguia no próprio veículo para trabalhar na Operação Delegada – convênio com a Prefeitura em que o policial trabalha no horário de folga. O GPS teria indicado o caminho errado, ele se perdeu e acabou na avenida dentro de uma comunidade Bela Vista, onde teria sido abordado.
Pela versão do policial, ele tentava contornar o veículo quando Silva e outro rapaz apontaram uma arma e mandaram que ele descesse do carro. O PM afirmou ter dado voz de prisão aos dois, mas Silva teria atirado com um revólver calibre 22. O policial, então, reagiu e fez os disparos que acabaram matando o rapaz. O outro suspeito acabou fugindo. Até a noite de ontem, ele não havia sido localizado.
A comunidade contesta a versão. Após a morte do jovem e demora da chegada da Polícia Científica ao local, os moradores da região iniciaram um protesto. Cerca de 150 pessoas montaram barricadas na via, queimando pneus e lixo.
Confronto. A Polícia Militar foi chamada e houve confronto com manifestantes. Algumas pessoas teriam atirado pedras nos policiais e nas viaturas. A PM revidou com bombas de efeito moral. Moradores disseram que foram atingidos por balas de borracha. Eles afirmaram que houve toque de recolher no comércio da região.
Os manifestantes pretendiam fechar a Marginal do Tietê, mas o protesto se dispersou após a chegada da Rota e do helicóptero Águia. O caso foi registrado no 90.º Distrito Policial.