Prisões chilenas: “Por uma memória combativa, um Dezembro Negro”, carta da compa Nataly Casanova

A memória combativa molda-nos como indivíduos ao posicionar-nos como negadores do existente, desencadeando em nós a necessidade de fazer com que a recordação dxs nossxs companheirxs caídxs em combate vá mais além do que o simples questionamento da forma como é que elxs nos foram arrebatadxs, ou seja, como foram trazidos ao nosso dia a dia – de diversas formas e iniciativas individuais – não nos entregando à resignação da morte ou do esquecimento.

Reviver as suas vidas insurretas, através dos atos, recordando também aqueles que nos tiraram a sua vida – pois xs compas vivem em cada um/uma de nós –  é por aqui que continuaremos a repudiar o papel como defensores do atual sistema de dominação.

O guarda ao assassinar o Angry converteu-se num herói para a cidadania e esta, ao jamais questionar o ajuste da sua vida, torna-se parte do seu assassinato. Este mercenário honrou a sua instituição e tem o sangue do nosso irmão, isso o sabemos todxs muito bem assim como também sabemos que cada lacaio (defensor da ordem) poderia ter e merece os mesmos actos que Wiliam Vera, podemos apreciar isso através dos seus movimentos – pois seja onde for que se tenham atrevido a tocar na sagrada propriedade dos ricos ou são assassinados ou confinados pelas suas mãos. Aquelxs de nós que se afastam das lógicas do poder sabem que a perda dxs nossxs irmãos/ãs não pode ser esquecida jamais – as suas vidas estão carregadas de sentido, beleza, coerência e  convicções nas quais confluem muitos desejos e inquietudes.

Não é só no território dominado pelo estado $hileno que se tem visto cair xs nossxs irmãos/ãs posicionadxs em confronto  – esta realidade é replicada no planeta inteiro pelos perpetuadores da ordem e seus lacaios –  por isso mesmo é que faz parte também da memória  o compa Alexandros Grigoropoulos, assassinado às mãos de outro asqueroso polícia defensor da ordem na Grécia (o bófia Epameinondas Korkoreas); o compa Alexandros Grigoropoulos também foi recuperado da morte, para viver como parte dos impulsos criadores e destruidores, gerando a resposta e o avanço insurrecional multiforme nesse território; atacando a normalidade que dia a dia sustenta a manutenção do domínio. Dessa resposta e respectivo avanço surgiram belas experiências de luta que tiveram eco em muitas partes do mundo, destruindo as fronteiras do Capital através dos actos, dando vida e permanência à luta contra toda a forma de poder e de autoridade.

Não seremos parte nem cúmplices daqueles que nos arrebataram – com as suas armas e muros – a vida dxs nossxs irmãos/ãs. Não seremos parte nem cúmplices da destruição da terra – nem dos seus habitantes – para manter as suas vidas parasitárias. A cada passo quebramos e questionamos a moral – recuperando as nossas vidas a cada tentativa de encaixar os pensamentos e actos. Não somos os seus escravos – nem nos encantaremos com as fantasias do consumo ou com a tecnologia para alienar a vida.

As inquietações que se aninham nos corações e mentes rebeldes – sedentxs de liberdade, negadores de toda a autoridade – são a mais perigosa das armas. O seu potencial estará determinado só pela sua vontade.

Todo o meu carinho e força à compa Sol Malén. Pela tua verticalidade e beleza. Estás sempre presente!! A Freddy Fuentevilla, Marcelo Villarroel e Juan Aliste, a sua vida em luta – com amor e rebelião – dá-nos força, sente-se o efeito!!

A Hans Niemeyer, à sua força e claridade, desejando que em breve estejas junto dos teus seres amados!!

A Alejandro Astorga, ao seu apoio e atitude ofensiva ao capital.

A Joaquin e Kevin um abraço cúmplice. Força, esses bastardos não poderãop com a sua beleza e claridade.

A Juan Flores, a Enrique Guzmán.

A Ignacio.

A Sergio, Fabian, Klaudio, Manuel, Felipe, Amaru, Natalia, María Paz. A Mónica e Francisco. A Marco Camenisch. A Claudio Lavazza, aos/às presxs no México, Espanha, Itália e Grécia.

Aos/às compas das CCF, núcleo da prisão. Olga Ekonomidou, Michalis  Nikolopoulos, Giorgos Nikolopoulos, Haris Hadjimihelakis, Gerasimos Tsakalos, Christos Tsakalos, Giorgos Polidoros, Panagiotis Argirou, Damiano Bolano, Theofilos Mavropoulos

A Nikos Romanos.

A cada compa presx que luta pela sua liberdade pelos próprios meios.

Em memória de cada compa caídx em confronto; Mauricio Morales, Claudia Lopez, Johny Cariqueo, Matías Catrileo, Alex Lemún, Jaime Mendoza Collio, Javier Recabarren, Jorge Saldivia, Sebastián Overluij, Alexandros Grigoropoulos, Xosé Tarrió, a Severino.

Abaixo os muros da sociedade civilizada.

Nataly Casanova.
San Miguel.

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