Retirado de ContraInfo:
Toda a sociedade que construires terá as suas franjas, e nas franjas de cada uma dessas sociedades vagabundxs heróicxs e inquietxs irão vaguear com pensamentos selvagens e virgens, capazes apenas de viver a preparar sempre novos e terríveis surtos de rebelião!
Renzo Novatore
Estamos a escrever este texto a todxs xs anarquistas e rebeldes, dentro e fora dos muros da prisão em todo o mundo, em resposta ao apelo internacional para uma semana de ações pelxs presos anarquistas (23-30 Agosto). A coordenação de ações por meio de chamadas deste tipo é necessária, tanto mais assim, no plano internacional, incitando as individualidades e colectividades a agir como puderem e sentirem, além de se expressar e difundir a luta anarquista para a libertação. No entanto, não devemos depender apenas dessas chamadas para se ouvir a nossa voz e serem mostradas as nossas ações. Assim, dando por certo que estamos numa guerra feroz e de termos escolhido esse lado, somos confrontadxs com um inimigo que tem todos os meios para nos bater a cada etapa do ataque. Exércitos, bófia, tecnologia de controle com câmaras, vigilância avançada, o armazenamento de amostras de ADN e perfis de impressões digitais, os media, e tantas outras instituições e mentalidades que constituem a dominação a que somos hostis. Nesta guerra, a única coisa certa é que iremos ter prisioneirxs, ou até mesmo vítimas, e é aí que a verificação da batalha reside, em si própria.
Estamos a passar por um período em que o Estado grego tem capturado nas suas prisões dezenas de anarquistas, pelos seus actos contra a dominação. A prisão não conseguiu nem nunca terá sucesso a dobrar a moral e o temperamento lutador dxs anarquistas, sendo isso mostrado diariamente pela sua atitude digna nas celas da democracia mas também as lutas dadas por elxs atrás das grades. “Inocência” e “culpa” é uma distinção falsa que só se aplica ao arsenal do Estado.
No quadro de repressão generalizada, o projecto de lei sobre as prisões do tipo C e as novas condições especiais de detenção foram aprovados durante o verão, seguindo os padrões americanos e europeus para esmagar a dignidade dxs presxs. Sem perder tempo, as autoridades já iniciaram as primeiras transferências de presos do inferno de Domokos para outras prisões, esvaziando a prisão de Domokos para a converter numa instalação de segurança máxima, e os primeiros prisioneiros que aí terão lugar serão anarquistas e lutadores de guerrilha urbana.
Quanto mais o nó de estrangulamento prisional é apertado, mais a sua democracia e o sistema correcional reproduzem a morte às prestações, puxando-nos para o esquecimento em termos da nossa liberdade individual e verdadeira vida.
Bófia, juízes, guardas prisionais e a sua turba, trogloditas em servidão da sua democracia, escravizada à sua própria miséria, consumidorxs de produtos inúteis que a dominação oferece generosamente, estão a passar por uma morte cotodiana em termos de vida cancerosa. Os titulares de cargos de chefia, que se aproveitam de sua autoridade, estão a tentar reformular um reino inferior de nacionais que sonham com a grandeza como eles. Eles forjam a mente humana para se tornar um molde adequado para o vazamento de valores e instituições artificiais, empurrando os seres humanos para a apatia através dos media, das drogas, da cultura de consumo generalizado, através da religião e do patriotismo, que mantêm o indivíduo afastado de pensar e agir segundo os seus desejos. Afogados em inércia, xs humanxs optam por estupidificarem-se, submeterem-se a uma brutal escravidão de 8 horas, alimentarem-se-se de noções artificiais, agarrarem-se a vícios do sistema, a serem escravizadxs a uma vida predeterminada, antes de uma ociosa e certa morte.
Rebeldes que não têm nenhum horizonte além dos muros da suas coerções são também introvertidos na sua não existência. Ver-se através da perspectiva dos meios de coerções significa que se aceita a direção definida pelo Poder, quer se aceite ou se repelir isso, simplesmente. A insurreição deve apontar para a destruição total de Poder; nada menos do que tudo é suficiente para nós.
Salários da dominação, guerra em todas as frentes – destruindo não só vidas humanas mas também o lançamento de uma investida para escravizar os animais não-humanos e a natureza – por isso a nossa resposta deve também ser em todas as frentes, visando a libertação total. Lutas parciais têm a sua própria importância; no entanto, nada o fará livre até que todxs sejam livres.