[Chile] Algumas palavras de Sol Vergara…

Retiramos e traduzimos do jornal: Abrazando al Caos.

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Ola manos, manas, velhos, velhas, meninos, meninas e criançada…

Muito obrigada por todo o apoio recebido, senti nas veias o carinho incondicional de vocês. Cada carta, cada nota, cada bolo gostoso ou grana é uma alegria e injeção de energia nessa jaula. Aproveitando que estão agora reunidos, aclararei algumas dúvidas que ao parecer rondam por aqui ou por ali . A respeito de  declarar sobre os fatos, não vou  pronunciar nenhuma palavra, porém, não deixarei de emitir algum sinal em instantes como esse. Respeito ao cárcere, me choca topar-me com o seu panorama dado claramente pelas características do módulo no qual me encontro denominado “ de conotação publica”, nos quais, as carcereiras procuram uma esquizofrênica amizade com as presas e mais ainda a síndrome de Estocolmo que se da respectivamente.

Frente a isso minha atitude tem sido a distância que deve de existir entre sequestradora e sequestrada. Assim tenho conseguido uma “ficha” de inimiga das gendarmes (carcereiras), pelo que comigo não mexem…

Com as demais do módulo tenho conseguido levar certos problemas que se deram obviamente pela convivência obrigada de 24 horas além de equilibrar um pouco a sociabilidade com o antissocial da minha natureza.

Com respeito a gestos de solidariedade prejudiciais na investigação, minha postura é que não se devem deixar de fazer, além de provas, sempre são desestimados para o/a encarcerada. São noções ao menos entre nós além da família do que sucede lá fora agregado ao que nos eleva a moral que nestes últimos três meses, anda sob o chão.

Por essa mesma razão companheiros e fazendo a critica/autocrítica correspondente, cada avaliação pública que se faça deve sair desde a ação. A melhor maneira de ensinar é fazendo dizem, e nossa tarefa agora é aprender sem se estancar, achar o equilíbrio entre a inteligência e a práxis, deixando de lado egos, assumindo os erros, nos concentrando no que as vezes parecemos querer postergar. Cada uma e cada um sabe ao que me refiro, assim como também souberam entender o sucedido esse dia 21 de janeiro, e, é que ao ver cair a um companheiro morto ou em prisão, nossos sentires são os mesmos, nosso sangue ferve, nosso coração se acelera e choramos juntos.

Porque de alguma ou outra maneira, nos conhecemos, nos queremos e sabemos que somos poucos, mas que estamos, existimos e nos entrelaçamos. Essa ligação é o que dentro de microrréplica da existência/ sistema onde o machismo, o poder e a competição são reproduzidos pelas mulheres é o que me teve mantendo em pé viva, com a cabeça no alto e com essa ficha de presa política que pesa com as presas para bem.

Como primeiro pronunciamento, espero não tê-los aborrecido, os mando um abraço, cheio de força e energia que me deixaram aquele dia que vieram na comemoração da morte dos 81 meninos aqui mesmo. A prisão toda se deu conta e agora me comprimentam nos corredores. Algo masoquista que me deixou seca de tanto chorar.

Carinhos afetuosos a todos os compas.

Xs quero, Sol

Peça 1, modulo 1, andar 3-sur. Carcere de San Miguel.

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