Recebido no email: Texto traduzido do Inglês pela Biblioteca Kaos:
PJ: juíz
S.M. Spyros Mandylas
PJ: Diga-nos, em relação ás acusações contra você, o que tem para declarar?
S.M. Primeiramente, e antes de dizer algo mais, quero esclarecer que a moça Ks.K. quem foi detida comigo, não tem nada a ver com o processo. Pela minha própria escolha, sou eu quem assumirá toda a culpabilidade. Conheci Ks. no caminho à Nadir, e só porque os policiais estavam esperando que eu estivesse dentro da Okupa para fazer a invasão, ela foi detida junto comigo. Ressalto isso, desde o inicio, para que seja tomado em consideração.Em quanto às acusações, assumo algumas delas, outras não.Mas, antes de começar a falar sobre isto tudo, gostaria dizer uma coisa sobre a okupa Nadir. Eu assumo a responsabilidade política pela Nadir desde 2004 até agora. As ações políticas da Nadir, em todos estes anos, são muitas e diferentes. Temos realizado eventos, concertos, troca de idéias, temos organizado protestos, estávamos hospedando a emissora de rádio Radio-Revolta, fizemos uma variedade de ações na cidade e também temos publicado alguns livros.Os espaços da okupa são o bar, o estudo de ensaio e gravação, a academia, o jardim, a biblioteca com centos de livros e um muito grande acervo, a sala de computação, a cozinha, a garagem e o espaço para os convidados.Terão apercebido que eu não trouxe testemunhas para me defender. Acredito que não tenho que fazê-lo. Também não vim a apresentar os meus diplomas de formação, certidões de trabalho, nem de propriedades. O meu acionar político desde 2004 até agora será minha defensa.
P.J. Esse é o protocolo, trazemos documentação para mostrar quem somos… essas são as regras.
S.M. Aqui, eu estou sendo acusado por ser anarquista e não por ter ou não uma certidão. Alias, realmente, se alguém tem um diploma, isso prova alguma coisa? Os piores crimes foram feitos por pessoas com diplomas… Eu trouxe três pastas com as ações da Nadir. A primeira contem os textos que temos escrito como Okupa Nadir. A segunda, contem alguns cartazes da okupa e a terceira contem alguns textos e ações da Nadir em relação à invasão policial da okupa.Outro assunto que quero mencionar é que ao longo dos últimos 6 anos estou sendo alvo constante do Estado por conta das minhas ações políticas. No final das contas, sou o principal indiciado de todos os ataques surpresa que o Estado teve contra a Nadir. É de se notar que faz ao redor de 3 anos atrás fui detido e acusado de realizar 4 ataques (do projeto Fénix) e de participar da CCF. Com prova nenhuma. Mas, por este fato fui encarcerado por 18 meses na prisão de Korydallos. Agora fui absolvido por três desses ataques, e no julgamento que está para acontecer nos próximos dias em Atenas, serei completamente absolvido. O porque eu estou dizendo tudo isso? Para demonstrar o complot do Estado contra os anarquistas.
P.J. Leio, aqui, uma parte do livro de Alfredo Bonanno, “O Prazer armado”, o qual foi publicado pela sua Ocupação: “Rápido companheiro, atira na policia, no juiz, no chefe. Agora, antes que uma nova polícia te freie… Apressura-se em brincar. Apressura-se em te armar.” Você concorda com este estrato?
S.M. Uma das características da anarquia é a sua multiformidade. Eu concordo com a violência revolucionaria armada.
P.J. Fale-nos das acusações especificamente.
S.M. Vejamos, no tema da organização criminal… mais ou menos os fatos conhecidos… Desde 2008, e após, em dúzias de processos que tinham mais de dois suspeitos, sou acusado de comportamento ilegal, sou chamado pela policia por processos de organização criminal. Você tem consciência de todo isto, vocês são os juízes em Tessalónika, estas operações tem sido executadas pelo comandante da policia, Athina Pazarlis, e sua gang de informantes.
No que tem a ver com Nadir, não é uma organização criminal, porque se nós desejáramos montar uma organização criminal, simplesmente teríamos achado um esconderijo e um contador para a lavagem de dinheiro.
Mas o que é a Nadir? Nadir é um espaço aberto, dentro da morada dos estudantes universitários em Tessalonika. A razão pela qual este espaço foi escolhido é muito especifica. Nós queríamos estar entre um grupo grande de pessoas (pessoas jovens) com a intenção de, desde aí, conseguir a melhor difusão da anarquia possível. O que nós queremos dizer quando falamos de espaço aberto? Definimos desta forma um espaço que desde que fora liberado das suas características anteriores tem retomado como base as valorações da anarquia, auto organização e anti hierarquia. É um espaço contra os poderes como o do Estado e o dos chefes. Neste espaço, pode entrar qualquer um, exceto os inimigos da liberdade. Por inimigos da liberdade a gente se refere aos políticos, fascistas, policiais, sexistas, juízes, etc. Você, por exemplo, você não pode entrar neste espaço aberto. Você manda pessoas à prisão. Agora que estamos falando de espaços abertos – okupas, acho oportuno dizer algumas coisas mais. O espaço que nós tínhamos okupado era um espaço abandonado. Obviamente, este fato tem relação com a falta de ingressos nas universidades gregas, mas também com o fato de que numa construção, que supostamente poder albergar 600 universitários, existem naturalmente, espaços que não estão sendo aproveitados.
Em todo caso, quero dar ênfase na importância da existência duma okupação. Uma Okupa anarquista tem que existir por enquanto estejam aí as razões que motivaram sua apertura, é dizer, por enquanto existam o Estado e a autoridade.
E no que tem a ver com as práticas da Radio-Revolta, sobre as quais também assumo a responsabilidade política pelo período no qual esteve participando dela, o assunto é o mesmo que venho mencionando. Tínhamos a necessidade de nos expressar e começamos a armar uma estação de radio anarquista. Juntamos 3000 euros organizando um concerto de 3 dias e trouxemos os aparelhos que precisávamos para fazer a transmissão “pirata”. Transmitimos como “piratas” por duas razões. A primeira é porque não reconhecemos nenhuma plataforma emissora (Hellenic Telecommunication e Post Commission), e a segunda razão é que a permissão de transmissão pode ter um custo de mais de 50.000 euros. Acredito que vocês também estão informados de toda a situação que aconteceu por conta dos direitos de transmissão. Outra acusação que encarei foi a de provocar dano físico no policial Pantelis Xanthiakos. E realmente, aceito isso. O incidente aconteceu assim: a Nadir estava rodeada por uma variedade de forças policiais e por um grupo de 30 informantes, os quais estavam usando capuchas que cobriam seus rostos, capacetes, jaquetas de motoqueiro, casacos grossos, eles seguravam machados e martelos no momento em que invadiram à okupa. Na linha de frente de todos eles, estava o policial Xanthiakos. Eu segurei uma bandeira e comecei a bater em quem estivera invadindo minha okupa.
Outra coisa que eu gostaria falar é sobre a verdadeira razão pela qual a Nadir foi invadida. Os incêndios provocados e os ataques às delegacias policiais foram só pretextos que os policiais usaram para invadir à okupa. O que realmente incomoda ao Estado é a solidariedade que temos mostrado com organizações armadas e presos anarquistas, o fato de que com nossa estação de radio quebrávamos a tranqüilidade da cidade e o monologo da autoridade. Vocês consideram-nos criminosos. Nós acreditamos que criminosos são o Estado, os juízes, a polícia. A repressão contra as práticas de okupação anarquista mostra só uma coisa: que as okupações são perigosas para a autoridade.
Spyros Mandylas
Membro da Okupa Nadir
3 de junho, 2016