Em 21 de Janeiro de 2014 , a companheira anarquista Tamara Sol Farías Vergara foi detida em Santiago do Chile, acusada de ter realizado um ataque armado contra um segurança do Banco Estado que aconteceu no mesmo dia, na agência bancária localizada no cruzamento da avenida Alameda com a rua Las Rejas.
Em 22 de Janeiro , a compa compareceu no tribunal e foi colocada em prisão preventiva, acusada de roubar a arma do segurança e ter-lhe causado grave lesão corporal. A investigação será concluída dentro de 60 dias e ela enfrenta uma pena de 10 anos e 1 dia até cadeia perpetua (40 anos se fosse qualificada, 20 anos se fosse simples).
Resulta difícil encontrar “palavras” para expressar o que sentimos depois de receber aquela noticia, porque através do seu acionar ela deu sentido e corpo à raiva vingativa que muitxs de nós sentimos algumas semanas atrás, quando vimos a um companheiro anarquista ser assassinado por um lacaio do poder… porque não existem palavras que possam alcançar o som de liberdade que sentimos ao ouvir esses disparos… Porque a memória combativa é o sangue que corre nas tuas veias…
Solidariedade, Ação, Agitação e Cumplicidade para a companheira Sol Vergara…
Que o sopro solidário atravessem todas as grades e fronteiras e alimentem tua paixão guerreira…
Em continuação colocamos um vídeo solidário com a companheira: Complicidad! Traduzimos também um texto da internacional negra que consideramos interessante para refletir sobre os últimos acontecimentos no Chile, que sirvam também de “dica” para outras latitudes, onde as ruas estão (re)começando a pegar fogo…
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=D9ec4b5Xw4A
Chile: Por Sol Vergara, pela guerra, pela liberdade: Solidariedade!
Como ficar calados frente a detenção de Tamara Sol Farias Vergara, companheira que, no dia 21 de janeiro, atacou a um segurança de banco, não sabemos exatamente se com o objetivo principal de roubar a sua arma, ou de cobrar vingança pelo assassinato do companheiro anarquista Sebastián Oversluij que aconteceu no dia 11 de dezembro de 2013, no meio de uma expropriação bancaria.
A solidariedade com a companheira não pode esperar. Porém, nos interessa difundir algumas tensões, com uma voz de alerta respeito ao nosso proceder anárquico no plano da violência revolucionaria. Queremos instaurar uma tensão importante para nossa luta e o faremos desde a fraternidade e a humildade que nos da a experiência, contrariamente à arrogância mostrada por alguns grupos de ação direita que têm atacado direitamente em seus escritos a outrxs companheirxs se escondendo em baixo de um falso manto de critica fraterna.
O que a nós nos interessa aportar de maneira urgente é simplesmente algo que outrxs companheirxs já têm alertado em outras oportunidades. Falamos da necessidade de elevar a qualidade de nosso acionar, tanto no conteúdo discursivo como no plano técnico-operativo de nossas operações armadas. Porque si nossa aspiração é alimentar uma ofensiva permanente, devemos assumir o peso real do que isso significa, preparando nossas ações de tal forma que os riscos sejam mínimos e a planificação seja o suficientemente inteligente como para nos afastar da repressão em vez de nos aproximar dela.
Sabemos que a revolta é contagiosa e reproduzível, mas isso não pode se confundir com a precariedade em nossa planificação e nos meios a utilizar durante uma ação. E essa tensão, embora engatilhada na sua difusão a partir da detenção da companheira Tamara, vai além do seu caso pontual e o transmitimos como uma aprendizagem necessária que temos forjado com todo um caminho de erros atrás, além disso, de pequenos triunfos (e muita sorte) em nossas ações.
Estamos em guerra, e isso merece uma preparação especifica que nada tem a ver com a profissionalização de especialistas militares dentro da anarquia. Somos inimigxs desses paradigmas, mas assumimos como certo o fato de que nenhuma ofensiva pode se sustentar através do tempo se nosso impulso não se combina com precauções, conhecimentos, técnica e planificação. Somos guerreirxs, parte de uma minoria ativa de combatentes que têm identificado o poder e a submissão como causas das misérias no mundo e cada um\a de nós é valiosx para a luta pela liberdade. Lamentavelmente, em nossa época, não existe a certeza de que outrxs companheirxs venham a tomar nosso lugar. Somos nós mesmos a continuidade histórica de que tanto falamos.
Por essa razão é que devemos combinar o impulso com a cautela. Talvez isso nos leve a postergar alguns golpes direitos contra o poder, nos levando a atacar objetivos mais simples, com meios mais seguros, enquanto, em paralelo, nos preparamos para minimizar os riscos projetando operações armadas de maior complexidade, nos dotando dos meios e conhecimentos necessários. Tudo isso sem esquecer que a ação e o discurso devem se desenvolver e se agudizar ao mesmo ritmo e nunca um mais a frente que o outro, clarificando nossas intenções com nos mesmxs e com nossxs companheirxs e entendendo totalmente as consequências de nosso acionar e do seu conteúdo de guerra.
Sobre a detenção da companheira Tamara, o chamado e a interpelação é clara: solidariedade e ação, atacando o silencio e as criticas e múrmuros que ficam em comentários de corredores sem uma proposta de fundo.
solidariedade para multiplicar a luta. Ação para dar força para a companheira e para seus/suas proximxs. Mas também, autocrítica respeito a nosso acionar, para prevenir que mais companheiros não caiam presxs ou mortxs, para trancar a boca as gargalhadas do inimigo e as criticas de salão, e para extirpar de nosso entorno as posturas simplistas que exaltam a violência como um fim ou um fetiche.
Somos anarquistas que abraçamos na luta métodos violentos como forma de propaganda, de vingança e de solidariedade como estratégia para alimentar a luta pela liberdade. Nós, particularmente, temos decidido contribuir desde a atividade armada contra o poder, mas não esquecemos que a luta pela liberdade se dá em muitos terrenos e com multiplos meios, como outros companheiros têm feito no Chile e em outros lugares do mundo.
Como insurrectos que atacamos ao poder por meio da violência minoritária anarquista, valorizamos o impulso da companheira Tamara, mas sem deixar de abordar a necessária tensão sobre o nosso acionar.
E, ao revés, não podemos somente propagar essa tensão sem fazer um chamado à solidariedade combativa como meio efetivo para elevar a moral de nossxs companheirxs presxs e como parte da continuidade da guerra social ante o sequestro de companheirxs de luta.
Porque a companheira Tamara teve a valentia de fazer algo necessário, devolver golpe por golpe. Embora seja outra cabeça e outro corpo o que espera o chumbo de balas vingadoras, nos referindo ao segurança que assassinou ao companheiro Sebastian Oversluij. Não esquecemos que, como mostra o vídeo da ação captado pelas camarás do banco e difundido pela imprensa, o companheiro Sebastian Oversluij foi assassinado ante a mirada de um dos seus acompanhantes, quem sendo testemunha de como o companheiro Sebastian estava sendo baleado, e podendo fazer algo (ao estar armado) para impedir a morte do companheiro (ou ao menos para vingá-la no ato); não se lhe ocorreu nada mais que esconder sua cabeça e se arrastar pelo chão, se protegendo a si mesmo e deixando ao companheiro a mercê das balas inimigas.
Ao fim do dia, a conta nos deixa um saldo caro. A imagem de uma companheira que ingressa a um banco, que ataca a um guardião lhe disparando com uma arma de fogo, que expropria a arma que portava para defender o capital financeiro, que grita Vingança, e posteriormente é detida e encarcerada na mesma prisão de San Miguel, onde 81 presxs foram deixados morrer pelos carcereiros no incêndio do dia 8 de dezembro de 2010. Com isso ante os olhos, a solidariedade não pode esperar.
SOLIDARIEDADE E FORçA PARA A COMPANHEIRA TAMARA SOL FARIAS VERGARA
Solidariedade e respeito para a familia Vergara Toledo. Com organização, abramos as ruas para a insureição!
Anarquistas da Internacional Negra.
Chile, janeiro 2014.