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O que é quebrar um banco comparado a fundar um?
Nas Jornadas de Junho discutíamos um tema que até então somente oseconomistas tinham os conceitos adequados para fazê-lo:
– Como aquele banco quebrou? – Qual?
– O Itaú, o Bradesco… – Ah sim! Quebraram!
A questão não era exatamente sobre a queda das taxas de lucros ou sobre as flutuações do câmbio. Discutíamos os métodos mais eficientes para escapar à resistência da blindagem translúcida de algumas agências bancárias e à ferocidade doméstica do Batalhão de Choque. Bila ou Pedra? No começo ou no final da manifestação? A polêmica se estendia noite adentro. Concluímos que há duas maneiras de se quebrar um banco. A primeira, e a mais simples, é estilhaçar suas vidraças a pedradas e nesse caminho reto esperar que para cada caco de vidro quebrado se manifeste os indícios da revolta contra a economia política e o controle alienado da vida. Pois não precisamos deixar nada bem explicado. Não precisamos de um fundamento para explicar a desigualdade social, a fome, o poder das elites e o fascismo do Estado democrático. Quem ainda hoje precisa de explicações para fazer a crítica prática da economia política ainda teme por ela. Vive sob os fantasmas da abstração mercantil. Não é preciso especialistas da economia, da política ou da sociologia engajada para expor com detalhes as contradições para quem as vive. A segunda maneira é não deixar escapar a certeza de que estamos fazendo o certo. Pois os dispositivos de controle do poder mercantil nos presenteiam com cartões dourados, financiam o desenvolvimento econômico e autossustentável daquela comunidade, são benevolentes em dar crédito àquele pequeno empreendedor e assim estendem a toda esfera da vida a totalidade da não-vida econômica. As ONGs, o BID, o BNDS, os dirigentes sindicais, o assessor parlamentar nos oferecem novas alternativas sociais ao capitalismo: solidariedade, sustentabilidade, democracia participativa, alimentos orgânicos e nessas uma nova possibilidade pela sobrevivência possível aparece. Uma nova economia faz-se possível sob a mesma repetição tediosa de trabalho assalariado-sobrevivência-trabalho assalariado. E acompanhando assiduamente o crescimento do PIB nos telejornais, rapidamente nos tornamos participantes daquilo que nos é mais estranho: a economia que só obedece às suas próprias leis. Assim, deve ser sem culpa ou dúvida a pedra lançada sobre a transparência dos vidros, na esperança de fazer ver a mais sólida e obscura gestão do poder de classe que existe na benevolência dos “projetos sociais”.
Em Julho de 2014, Fortaleza será sede para a fundação de um novo banco. O BDB, Banco de Desenvolvimento do BRICS, será pauta da 6ª reunião da cúpula do BRICS. Os dirigentes desse novo grupo político de cooperação que reúne os ascendentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul encenarão mais uma vez as suas fantasias de controle sobre o caos da reprodução autônoma do capital mercantil. O grau de entretenimento desse encontro pode ser medido pela comemoração que fez o Secretário de Turismo do Estado do Ceará chamando o encontro de “O negócio da China”. Além do alinhamento burocrático para a institucionalização do banco, o encontro pretende aprovar a criação imediata de um Arranjo Contingente de Reservas (ACR) de 100 bilhões de dólares. Um fundo de emergência para fins de combater a crise nos países do bloco e prover segurança ao investidor internacional. Inicialmente o Brasil deve contribuir com 18 bilhões de dólares. Estima-se que todos os gastos com a Copa do Mundo de 2014 (incluindo aeroportos, projetos de (i)mobilidade urbana, estádios) chegarão a 25 bilhões de reais. Isso é pouco mais da metade do que pretende dar inicialmente o governo Dilma em subsídios aos grandes monopólios capitalistas com a criação desse A configuração de um estado de exceção econômicopolítico objetivo e a inconsistência das ações dos governos tanto sob a ideologia do livre mercado quanto subsidiando setores específicos da produção de mercadorias, formam uma combinação eficiente para o crescimento da exploração da força de trabalho, assim como para o aumento da população excluída nesse processo, e o necessário controle político e policial de ambas. O Fantasma da crise mobiliza trabalhadores do mundo inteiro em favor de uma nova economia, mais benevolente, em que capitalistas e governos populares unem-se na luta contra a fome e a exclusão social. A Declaração de E-Thekwini, documento aprovado pela V cúpula do BRICS em Durban, diz: “ressaltamos que a agenda de desenvolvimento para além de 2015 deve basear-se no marco dos ODMs, mantendo o foco na erradicação da pobreza e no desenvolvimento humano, ao mesmo tempo em que enfrenta os desafios emergentes do desenvolvimento e leva em conta as circunstâncias nacionais individuais de países em desenvolvimento. Nesse sentido, a questão fundamental da mobilização de recursos para implementação da assistência aos países em desenvolvimento deve ser um objetivo abrangente.” Nesse encontro discutia-se os planos para a África miserável. Sabemos que frente à recessão mundial, a produção de mercadorias deve ser equivalente às possibilidades de acesso a esses bens de consumo. Resumindo, os miseráveis do mundo devem integrar a esfera do consumo em massa. Assim, a forma dos Auxílios, das Bolsas, do assalariamento globalizado cumprem com duas faces da mesma cédula: participamos politicamente da nossa exploração enquanto exploram toda participação como dispositivo de controle social. Toda a atividade mortífera do poder consiste em gerar tal ruína de um lado enquanto dispõe no outro as bases de uma nova economia.
É deste modo que BRICS, BNDS, BID, apoiam os mais diversos tipos de experimentações coletivas de governança pseudo-democráticas tipo bancos populares e moedas sociais, orçamentos participativos e todas as ilhas de diferença que pretendem evitar a crise do humanismo e depois rebater a culpa andando de bicicleta ou adotando o vegetarianismo político. Porque essa negação interna ao próprio sistema são distúrbios acidentais necessários à manutenção da própria heteronomia do sistema (re)produtor de mercadorias. Capturados, embotam o caráter subversivo da resistência à totalidade do mundo mercantil, assim como fizeram os meios de comunicação de massa domesticando a transmissão da experiência insurreta das Jornadas de Junho com pautas sociais tipo Fim da PEC-69, abaixo os 0,20 centavos e etc. Desde a resistência à ditadura militar não víamos brotar tão rapidamente tantas teorias sobre os movimentos sociais como vimos sobre as Jornadas de Junho. Mas nestas, poucos se arriscaram a dizer o mais simples e também o mais comprometedor com a tarefa vindoura: éramos jovens insurretos, assalariados, numa contestação proletária contra a copa, em solidariedade aos trabalhadores da educação no Rio de Janeiro, em apoio à resistência turca na praça Tahrir, na lembrança à rebeldia dos estudantes franceses em maio de 68, em memória aos communards de 1871, sendo algo como as grandes mobilizações de Seattle, de Gênova nos fins dos anos 90, na manutenção da transmissão revolucionária do ANTI-BID de 2001 em Fortaleza
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Que vejamos a ordem questionada novamente! Em 14 de Julho de 2014, todas e todos em Fortaleza!
Contato: antibrics@riseup.net